quarta-feira, dezembro 27, 2017

 

O Mistério do "Quem sou eu?"


"Quem sou eu?" tem de ser perguntado nos recantos mais profundos do seu ser [1]. Se você permanecer com a pergunta, não significa que vai receber a resposta. Ninguém jamais recebeu alguma resposta. Se você permanecer com a pergunta, pouco a pouco a pergunta desaparecerá. Não que a resposta seja recebida; não há resposta. Não pode haver, porque a vida é um mistério. Se houvesse alguma resposta, a vida não seria um mistério.

É belo permanecer com a pergunta, porque as respostas o corrompem. Elas destroem sua inocência. Elas enchem sua mente com palavras, teorias, dogmas; elas o corrompem. Uma pergunta é pura; ela não o corrompe. Quando a pergunta desaparece, você não consegue dizer quem você é, mas você sabe. Isso não é conhecimento; é um saber. Você não pode responder, mas você sabe. Você vai vivenciá-la, mas não pode responder a ela.

Toda a nossa educação - na família, na sociedade, na escola, na faculdade, na universidade - cria tensão em nós. E a tensão fundamental é a de que você não está fazendo aquilo que deveria estar fazendo. A  mente nunca vai deixá-lo descansar; faça você o que fizer, ela estará sempre condenando-o. Este censor foi implantado em você. Essa é a maior calamidade que aconteceu com a humanidade. E, a menos que nos livremos deste censor que existe dentro de nós, não poderemos ser verdadeiramente humanos, não poderemos ser verdadeiramente alegres e não poderemos participar da celebração que é a existência. Ninguém pode removê-lo, exceto você. O essencial (na sociedade manipuladora) é criar uma divisão em você, para que uma parte de você sempre condene a outra parte. Se você seguir a primeira parte, a segunda parte começa a condená-lo. Você vive em um conflito interno, em uma guerra civil.

Temos de nos livrar de todos os sacerdotes; eles são a causa fundamental da patologia humana. Eles têm deixado todo mundo desconfortável, têm causado uma epidemia de neurose. Há pelo menos cinco mil anos, os sacerdotes têm prejudicado a psique humana. Os sacerdotes têm sido muito ladinos, porque descobriram algo extremamente importante para eles próprios: divida uma pessoa, parta uma pessoa, torne-a basicamente esquizofrênica e você sempre permanecerá no poder. Um ser humano dividido é um ser humano fraco. Uma pessoa inteira é um indivíduo que tem força - força para aceitar qualquer aventura, qualquer desafio.

Não siga regras impostas de fora. Nenhuma regra imposta pode jamais estar certa, porque as regras são inventadas por pessoas que querem dominá-lo. Nunca seja um imitador, seja sempre original. Não se torne uma cópia carbono. Mas é isso que está acontecendo no mundo todo - cópias e mais cópias carbono. Para chegar à porta certa é preciso primeiro bater em muitas portas erradas. Se você de repente esbarra na porta certa, não será capaz de reconhecer que ela é a certa. No cômputo geral, nenhum esforço jamais é desperdiçado; todos os esforços contribuem para o clímax supremo do seu crescimento. Por isso, não hesite, não se preocupe demais em estar seguindo o caminho errado. Esse é um dos problemas; as pessoas foram ensinadas a nunca fazer nada errado, e por isso se tornam tão hesitantes, tão temerosas, tão amedrontadas de fazer o que é errado, que acabam paralisadas. Não conseguem se mover porque algo de errado pode acontecer. Então se tornam como rochas, perdem todo o movimento.

Não lhe prescrevo nenhum mandamento. A própria palavra "mandamento" é feia. Comandar alguém é reduzi-lo a um escravo. Não há necessidade de olhar para trás; a vida anda sempre para a frente. Olhe para a frente. O caminho pelo qual você passou, já passou. Está acabado, não o leve mais consigo. Não seja desnecessariamente sobrecarregado pelo passado. O velho estava certo em seu próprio contexto, e o novo está certo em seu próprio contexto, e eles são incomparáveis (no passado eu era burro e fazia burradas; agora já não são tão burro, e não faço as mesmas burradas...) . Portanto, abandone a culpa! Porque ser culpado é viver no inferno. Viver carregado de culpa é simplesmente ser explorado pelos sacerdotes.

Tudo se torna irrelevante, porque a vida nunca permanece confinada. Ela vai sempre em frente; ela atravessa todos os limites, todas as fronteiras, é um processo infinito. A Bíblia, em algum momento, chega a um ponto final; o Alcorão, em algum momento, chega a um ponto final, mas a vida nunca chega a um ponto final, lembre-se disso. Quando os outros decidem por você, sua alma permanece adormecida e embotada. Quando você começa a decidir por você mesmo, surge uma perspicácia. Decidir significa assumir riscos, decidir significa que você pode errar - quem sabe? Esse é o risco. Quem sabe o que vai acontecer? Esse é o risco, não há garantias.

Com o pensamento antigo, há uma garantia. Milhões e milhões de pessoas o têm seguido - "como tantas pessoas podem estar erradas?". Essa é a garantia. Se tantas pessoas dizem que isto é certo, deve ser certo. Na verdade, a lógica da vida é exatamente o oposto. Se tantas pessoas estão seguindo determinada coisa, esteja certo de que ela está errada, porque tantas pessoas não são tão iluminadas e não podem ser tão iluminadas. A maioria consiste de tolos (são medíocres), tolos rematados. Cuidado com a maioria! Se tantas pessoas estão seguindo algo, isso é prova suficiente de que este algo está errado. A verdade ocorre para os indivíduos, não para as multidões. Como a verdade ocorre para os indivíduos, se você realmente quer que a verdade ocorra para você, seja um indivíduo. Regozije-se como você é.

Referência:
[1] Osho, Destino, Liberdade e Alma - Qual é o sentido da vida?, Editora Planeta do Brasil, São Paulo, 2016. ISBN: 978-85-422-0800-9.

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