sexta-feira, outubro 26, 2007

 

A Clarividência

Fonte: Omraam Mikhaël Aïvanhov, Acerca do Invisível, Edições Prosveta, Lisboa, 1988.

As pessoas interessam-se, cada vez mais, pelos fenômenos da mediunidade, da clarividência, da telepatia, e desejam cultivar estas faculdades que lhes parecem tão vantajosas: conhecer, penetrar no que está oculto. Claro que isso tem as suas vantagens, contudo é algo arriscado. Por que? Porque para alguém se tornar médium, clarividente, tem de manter uma atitude de grande passividade e receptividade. É porque têm esta atitude receptiva que os videntes podem ser mensageiros do invisível. Mas quando se fica demasiado receptivo, é-se como uma esponja, absorve-se tudo, aquilo que é bom e aquilo que é mau.

O mundo invisível não é um espaço vazio, e é perigoso aventurar-se em tais regiões sem uma preparação prévia, pois elas não estão unicamente povoadas por espíritos luminosos, mas também por entidades malfazejas, muitas vezes hostis aos humanos e que se comprazem em induzi-los em erro ou em persegui-los. No invisível flutuam tembém criaturas monstruosas, produzidas pelos pensamentos e sentimentos de pessoas criminosas e pelos mágicos negros, que procuram introduzir-se em todo o lado onde encontram uma porta aberta, quer dizer, em todos os seres fracos e incapazes. Assim se encontram nos hospitais psiquiátricos imenso número de pessoas que, no seu desejo de entrar em contato com o mundo invisível através da clarividência e da mediunidade, se deixaram invadir por essas entidades tenebrosas.

Quando se possui certas faculdades mediúnicas, que são as qualidades do princípio feminino, é aconselhável desenvolver também as qualidades masculinas a fim de se ter armas para se proteger. A história da Antiguidade relata a existência de numerosas profetisas, de videntes, de sibilas, de pitonisas, que desempenharam um papel importante. Mas essas videntes viviam sempre perto de grandes sacerdotes e de Iniciados que as protegiam, pois um Iniciado é um ser que desenvolveu sobretudo qualidades do princípio masculino. Um verdadeiro Iniciado é mais um mago que um clarividente, escolheu agir sobre os seres, os elementos, as forças da Natureza. Ele talvez tenha dons de receptividade, mas tem sobretudo a possibilidade de agir; é porisso que está mais protegido que um clarividente. Como ele é ativo, dinâmico, as forças que projeta opõem-se aos perigos que o ameaçam. A perfeição está, evidentemente, em conseguir desenvolver as duas possibilidades: ser, ao mesmo tempo, emissivo e receptivo.

Cada ser só pode atrair as correntes e as entidades que estão em sintonia com o estado em que ele se encontra. É a lei: o homem entra em relação com aquilo que corresponde às suas vibrações, à sua aura, e se ele não for puro, luminoso, será obrigado a suportar tudo o que de negativo, de pouco salutar, de violento, circula na atmosfera psíquica que o envolve. As pessoas receptivas, passivas, como os médiuns, estão assim mais particularmente expostas; é porisso que vos aconselho a não vos deixardes influenciar pelas vossas tendências mediúnicas, se as tendes, enquanto não tiverdes feito um trabalho de purificação e de elevação interior que vos permitirá resistir aos ataques das forças obscuras. Fazei primeiro o esforço de vos elevar, de vos ligar à luz, de projetar essa luz à vossa volta: quando sentirdes que o conseguistes, e só nesse momento, podereis relaxar-vos, tornar-vos receptivos, pois sereis protegidos por causa do vosso trabalho preliminar, por causa de toda essa luz que projetastes e que repele os indesejáveis.

É freqüente os seres muito sensíveis serem bastante vulneráveis, pois a par da sua sensibilidade, não souberam desenvolver as armas espirituais: não sabem lutar, não conseguem lutar. Quantos não pensaram que, para receberem a Divindade, bastaria abandonarem-se a um impulso místico muito vago! Pois bem, nada disso, quando alguém se limita a ser passivo, não é garantido que receba a divindade, é mais provável que receba alguns diabos que, ao ver um fulano tão disponível, apático e sem proteção, se regozijam por ter encontrado um lugar onde se instalar.

Para tudo o que quiserdes empreender, devereis começar por preparar as condições. Quando quereis deitar um líquido num recipiente, não o deitais num recipiente sujo; se este estiver sujo, lavai-lo. Então, acreditais que, se vós próprios fordes recipientes sujos, o Céu virá derramar as suas bençãos, o Espírito Santo virá fazer de vós a sua morada? Como podeis esperar que o Espírito Santo aceite instalar-se num pântano? Virão é as entidades tenebrosas, impuras: porque serão atraídas pelo alimento que existe em vós sob forma de paixões, de instintos mal dominados. Claro que o Espírito Santo pode vir, mas somente no dia em que, à custa de um trabalho, lhe tiverdes preparado um tabernáculo digno dele.

Infelizmente, sabe-se o que acontece a todos aqueles que querem receber o Espírito Santo sem estar preparados para tal, sabe-se das desordens que se apoderam deles. O Espírito Santo "visita-os" e eles ficam a cair por terra, a estrebuchar, a soltar gritos desarticulados - aquilo a que chamam "falar línguas". Que imagem dão do Espírito Santo! Ele nem sequer é um pedagogo, pois não sabe falar em línguas que os outros compreendam. Esse Espírito Santo talvez seja grande poliglota, mas falta-lhe a pedagogia, pois um pedagogo procura antes de mais nada fazer-se entender. Como se pode imaginar que o Espírito Santo, que é um princípio cósmico da mais elevada sabedoria e do maior poder, possa manifestar-se de uma forma tão ridícula, projetando as pessoas por terra para falar através delas? Quando falais a um amigo, ao vosso marido, à vossa esposa, rolais por terra vociferando para os convencer? Não? Pois bem, vós sois mais inspirados que todas essas pessoas que dizem ser visitadas pelo Espírito Santo.

Se quiserdes efetivamente entrar em contato com o Céu, primeiro esforçai-vos por atingir o cume do vosso ser interior. Permanecei lá o máximo de tempo possível a saborear aquela vida intensa e, como é difícil manter por muito tempo essa intensidade, uns momentos depois podeis abandonar-vos, deixar-vos levar pela luz, como se flutuásseis sobre um mar calmo... Já não pensais, quase já não sentis... Aí já não correis nenhum perigo, é a vossa alma que lá está, viva, vibrante, para se impregnar dos elementos mais puros, mais luminosos. E quando tiverdes de retomar os vossos trabalhos da vida cotidiana, sentireis que esses elementos espirituais restabelecem e harmonizam tudo em vós. O vosso desejo de trabalhar, de ajudar os outros, de os amar, aumenta, e esta sensação não engana. Como vedes, é simples, é claro.

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