terça-feira, abril 10, 2007

 

Liberte-se Conhecendo a Verdade


Diz-se que esta frase, ou algo muito semelhante, foi pronunciada por Jesus Cristo. Uma outra frase, praticamente equivalente a essa, porém mais próxima do nosso cotidiano, é "Você é um escravo das mentiras que te contaram, e você aceitou, desde que você nasceu". É importante entendermos, na frase original, o significado do verbo "conhecer". A Bíblia usa bastante esse verbo; por exemplo, diz-se que Adão conheceu Eva e disso resultou o nascimento de Abel.

Você pode passar anos tentando explicar (sem sucesso) para uma pessoa qual é o gosto de uma banana. Porém, essa pessoa somente vai conhecer o gosto de uma banana quando ela comer uma banana. Portanto, somente conhecemos algo quando experienciamos/vivemos esse algo. O uso de palavras escritas ou faladas nunca pode transmitir o conhecimento da verdade, apenas pode dar uma noção aproximada do que é a verdade. Portanto, para conhecer a verdade precisamos vivê-la.

Se eu não viver a verdade, eu estarei vivendo a mentira. Viver a mentira é viver no erro, no pecado, e isso leva à morte. O salário do pecado é a morte. Mas, afinal, qual é a verdade que eu preciso conhecer, para me libertar da morte? A verdade é que o Universo, do qual você faz parte integral, é regido por leis imutáveis que devem ser obedecidas ao longo do caminho da vida. Não deve haver nenhum esforço voluntário para cumprir essas leis universais, basta haver uma atitude de entrega ao fluxo natural da natureza. É como se entregar ao fluxo natural de um rio que nos irá levar ao oceano.

Talvez seja conveniente comentar um pouco mais sobre o não-esforço citado acima [1]. Ao tentar algo arduamente, a pessoa passa a perceber que, o tentar arduamente, constitui uma barreira para alcançar o objetivo, e então ela deixa de lado o esforço. Isto porque, quando você tenta arduamente viver de acordo com o Tao, essa vida não pode ser uma vida espontânea, mas apenas um fenômeno forçado, uma disciplina, e não uma liberdade; isso se tornará uma escravidão. Ao tentar arduamente, ninguém pode atingir aquilo que já está presente; mas, ao tentar arduamente (com esforço), a pessoa acaba entendendo que mesmo o esforço é uma barreira, uma barreira muito sutil, porque todos os esforços são do ego. Até o desejo de chegar à verdade vem do ego, e a pessoa também deve abandonar isso.

Mas lembre-se, a pessoa só pode abandonar o esforço quando já se esforçou ao máximo. Você não pode dizer: "Se é assim, então seria melhor abandonar o esforço desde o começo. Por que fazer esforço?" Assim você perderá o ponto central. A ausência de qualquer esforço está certo apenas para aquelas pessoas que fizeram um grande esforço inicial com todo o seu ser. É como flutuar na água; ninguém pode simplesmente flutuar, pois antes a pessoa precisa aprender a nadar. Não vá ao rio, senão você afundará. A pessoa precisa aprender a nadar (com o uso de esforço) e, quando o nadar se torna perfeito, ela não precisa mais nadar e pode simplesmente estar no rio, flutuando; ela pode se deitar no rio como se estivesse deitada numa cama. Agora ela aprendeu a estar em harmonia com o rio, agora o rio não pode afundá-la, agora ela não tem mais inimizade com ele. Na verdade, agora ela deixa de existir de uma maneira separada do rio. O nadador perfeito se torna parte do rio, é uma onda no rio. Como o rio pode destruir sua onda? Agora ele flutua em harmonia com o rio; ele não está ali brigando, resistindo, fazendo alguma coisa, mas está ali em sintonia com o rio (se entregando a ele) e pode simplesmente flutuar. Mas não tente isso, a menos que você saiba nadar, senão você afundará.

O mesmo acontece com o Tao. Você faz um grande esforço para viver de acordo com a verdade; então, aos poucos, você entende que seu grande esforço ajuda um pouco de um lado, mas dificulta bastante de outro lado. Viver em harmonia é ficar em um estado de deixar acontecer, e não de lutar contra a natureza. Viver em harmonia com a natureza é estar integrado a ela; não há necessidade de lutar. O esforço é uma luta e significa que você está tentando fazer alguma coisa de acordo consigo mesmo.

A ciência é esforço, o Tao é ausência de esforço. A ciência é violência para com a natureza, e é por isso que os cientistas falam continuamente em termos de conflito, de conquista. É uma briga contínua, como se a natureza fosse sua inimiga e você precisasse dominá-la. A ciência é uma política contra a natureza, uma profunda guerra, uma inimizade. O Tao não é uma luta; na verdade, ele faz entender que você é parte da natureza. Como a parte pode lutar contra o todo? Se a parte tentar lutar contra o todo, se a minha mão tentar lutar contra todo o meu corpo, é natural que a mão (a parte envolvida) fique doente. Como a mão pode lutar contra o corpo? O corpo supre a mão com sangue, com nutrientes, e como ela pode lutar contra o corpo? A mão lutando contra o corpo? Isso constitui uma tolice!

É tolice o ser humano lutar contra a natureza; você só deve viver em harmonia com a natureza. O Tao é entrega, a ciência é guerra. A ciência fortalece o ego, e todo o problema é como abandonar o ego; por meio do esforço ele não pode ser abandonado.

Que a Paz te acompanhe, Rui.

Referência:
[1] Osho, TAO: Sua História e Seus Ensinamentos, Editora Cultrix, 2005.

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